.

.

Cunhos de antigas correarias e talabarterias Rio-grandenses e do Prata.

Antigos cunhos (marcas) encontradas em peças de arreios produzidos artesanalmente com solas (couros curtidos ao tanino).
Aceitamos a participação dos leitores nesta coluna, quem quizer publicar algum cunho ou fornecer dados sobre os aqui publicados envie foto ou texto para o e-mail: rodrigoschlee@msn.com

 


 Antigo serigote "chapeado" com o cunho "Carlos Dilli" tradicional correaria Pelotense da primeira metade do séc. XX. Acervo do autor do blog.




Cunho usado pela família teuto rio-grandense Schmidt de São Leopoldo RS. Acervo  do autor.



 


Outro cunho posterior usado pela Viúva Schmidt, em um  travessão de cincha (abaixo). 





                                      
"Libório", fabrincante em Novo Hamburgo RS. (Serigote).
       
                                        



Correaria Central de Antônio Lanicca, fabricante de  serigotes e bastos por décadas do séc. passado em  Bagé - RS. Fonte: Joaquim Morais, Bagé -RS. (Marcado em um serigote). 






 Cunho da firma Schild e Cia. de São Leopoldo - RS. (marcado em uma carona).





Cunho da famosa Correaria Ziemer de Jaguarão - RS, na fronteira com Rio  Branco (Uruguai). Fechada a no mínimo 20 anos e ainda hoje pode-se ver estojos de mate e bastos (como o da foto) sendo usados diáriamentede comprovando a qualidade e resistência de seus produtos. (fornecida por José Ilton Schlee).





"POTRO" afamada marca de bastos fabricados na região de Paysandu, Uruguay. Acervo do autor. 





Cunho em um serigote feito pela Correaria Cruz, de Milciades Cruz em Santana do Livramento. (Por Mauro Martins, Poa).





Talabarteria Origo de Paisandu, Uruguay, fabricante de monturas em geral. Enviada por Julio Medina, Melo, ROU.





Correaria Pelotense, de Telmo Müller, marcada na aba de um antigo serigote. Fornecida por Gustavo Goularte de Canguçu - RS.



Basto com a marca da Tradicional Correaria Padílha, a mais de cinquenta anos em atividade na cidade de Pelotas - RS.





Wallauer. Kehl & Cia Ltda. Marca em uma carona, enviada por Caio Fleck de Gravatai RS.

I Concurso de aperos de Santana do Livramento

                                                                                Texto e fotos: Rodrigo Schlee e Fernanda Souza 

 Um dos pagos mais gaúchos do pampa rio-grandense "Santana do Livramento" celebra a tradição campeira e promove o seu "I Concurso de aperos", uma homenagem a seus antepassados que povoaram e riscaram aquela fronteira a pata de cavalo.
 Para ir-se da cidade de Livramento à Rivera no país vizinho do Uruguai, basta atravessar uma rua e se estiver no campo em alguns casos é abrir-se uma porteira e já se está do outro lado. Foi  desta proximidade que resultaram peculiaridades regionais típicas daquela parte do estado, principalmente em se tratando de assuntos campeiros e a equitação gaúcha.


 O ouro vinha das Minas Gerais e a prata das Minas de Potosi, o que acabou caracterizando o estilo dos aperos de luxo fabricados por prateiros de ambos os lados da fronteira, que abusaram do uso desses nobres metais para criar estribos, relhos, florões, esporas, cabos e bainhas de facas, pernas de freios e diversas outras peças que compõem e adornam o arreio e demais prendas do gaúcho.



Cunho (marca) de tradicional prateiro da fronteira em  uma chapa de serigote.



Por ser uma região com larga tradição na  pecuária, em Livramento se mantém vivo o ofício dos  guasqueiros e a característica de seus trabalhos são os "preparos" trançados de 12, 13 , 16  ou mais tentos (tranças quadriformes também conhecidas como trança pátria).






 O Concurso foi promovido pela Comissão  Jovem da Rural de Livramento, tendo a frente da organização os entusiastas Bento Brochado e Matheus Ribeiro.
Um grande número de pessoas assistiram ao Concurso que se realizou no parque  da Associação Rural de Livramento na tarde de 23 de Outubro de 2010.
 O número de participantes superou as expectativas dos organizadores, agradando a todos os presentes e entrando definitivamente para o calendário de  eventos anuais de Livramento.
 Peças históricas e a pura arte e tradição do arreio rio-grandense, desfilaram em uma cavalhada crioula de primeira e montada por gente muito campeira.
Nos aperos apresentados, pôde ver-se o trabalho de guasqueiros, correeiros, tecelas, prateiros, ferreiros e outros artífices do passado e presente, uma mostra do refinamento e esmero artístico de artesãos de outras épocas e conteporâneos na produção de peças do tradicional apero crioulo.
Muitos conjuntos se destacaram como o apresentado pela participante Flávia Benia, um apero que faz parte do acervo da família Brochado, apreciadores e incentivadores da cultura gaúcha, que permitiram que suas relíquias desfilassem depois de muitos anos guardadas como um tesouro intocável.
O apero estava  armado com um serigote chapeado, cochinilho de mechas, badana de fino tear bordada a mão, estribos de picaria com passadores chatos, rédeas com passadores cilíndricos e maçanetas de prata, cabeçada,  fiador e rabicho de chapas de prata com cinzelados e burilados de altíssima qualidade, relho e esporas completavam o conjunto que data de meados do séc.XIX.
O concurso foi dividido em cinco categorias: Chapeados; Couro cru; Temática; Amazona e Regionais.
Na categoria Temática, o participante escolhe um tipo  característico da campanha um personagem da história ou da literatura  gaúcha e apresenta-se com vestimentas e arreios tradicionais de sua época.

A categoria Amazona resgata o antigo estilo feminino de montar em "selim", tradicional em um determinado período e hoje em total desuso.
O I Concurso de aperos de Livramento inovou adicionando mais categorias e trouxe um avanço para os próximos concursos ao contar também com participantes femininas e crianças, demonstrando que para participar do concurso basta gostar da tradição.

Chapeados:
Roberto Azevedo
Flavia Benia
Antônio Candido de Souza

Couro cru:
Glauco Xavier
Olavo Saldanha Prado Lima
Felipe Silveira Souto

Amazona:
Jane Silveira

Regionais:
Diego (Buenos Aires)

Temático:
Mariana Silveira (Anita Garibaldi)
Henrique Costa  (Martin Fierro)
João Pedro Severo (changueador)

Jurados:
Ricardo Brochado
Flavio Cantoão
Joaquim Pedro Moraes
Rodrigo Schlee


     Flavia Benia desfilando com o histórico apero.









Fiador chapeado de prata, símbolo de uma época de luxo nos aperos, hoje caído em desuso.






Detalhes do apero apresentado por Roberto Azevedo, uma ourivesaria típica dos prateiros da fronteira que não economizavam o ouro e a prata em  seus trabalhos.









Antiga caneca de aspa com desenho entalhado, uma histórica peça que somou pontos ao conjunto vencedor na Cat. "chapeados". 


Antônio Candido de Souza participando com peças do apero de seu bisavô um conhecido militar da Revolução de 93.





Serigote com cabeças de prata e em ouro as iniciais de seu antigo dono.






Um costume típico da fronteira, andar sempre de "poncho imalado na garupa"




O participante Rodrigo Antunes de Bagé veio prestigiar o concurso.


Preparo de couro cru torcido apresentado por Glauco Xavier.


Olavo Saldanha Prado Lima, um campeiro da fronteira sudoeste com as pilchas e aperos típicos dos últimos cinquenta anos. 



Felipe Silveira Souto, desfilando no seu "preto" com um preparo trançado de 13 tentos. 




Os fronteiriços não brincam em serviço...



Mariana Silveira, apresentando-se na Cat. Temática e interpretando a revolucionária Anita Garibaldi.



Detalhes do vistoso preparo de sogas com aplicações de chapas de prata "repuchada" .






Chapa de serigotede em prata com iniciais em ouro e fino trabalho de cinzelado feito a mão por algum anônimo prateiro ou platero (conforme o lado que estivesse da fronteira).


    "Tropeiro de antânho" com lenço serenero e chapéu pança de burro.


Henrique Costa  participou interpretando o personagem de José Hernándes "Martin Fierro", um trabalho de pesquisa e reconstituíção para representar o ícone da literatura pampeana.



Estribo de osso e somente no lado de montar, segundo um costume pampeano que desdenhava o uso de estribos pelo risco de ficar preso em caso de rodadas. 


Jane Silveira mostrou a elegância da "amazona rio-grandense", apresentando-se montada em selim.


O  participante argentino Diego representou os "bonairenses" na cat. Regionais.

          Os organizadores Matheus Ribeiro e Bento Brochado.